sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Exportações compensam quebras recorde na procura interna

 Apesar de o investimento ter registado o maior recuo do ano, a economia cresceu 1,4 por cento no terceiro trimestre. Consumo privado abrandou significativamente

Este ano parece estar realmente a correr melhor do que se previa. O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou ontem os dados finais do terceiro trimestre, que mostram que a economia portuguesa cresceu 1,4 por cento em termos homólogos. As exportações são, uma vez mais, o motor do crescimento e compensaram dois recordes negativos na procura interna: a maior quebra do investimento e o maior abrandamento do consumo privado registados este ano.

Os dados divulgados ontem pelo INE vieram rever ligeiramente em baixa (0,1 por cento) as previsões anteriormente apresentadas. Entre Julho e Setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,4 por cento em termos homólogos e 0,3 por cento em cadeia. As exportações tiveram este trimestre o melhor comportamento trimestral de todo o ano, aumentando 9,2 por cento face ao terceiro trimestre de 2009. As importações também deram o seu contributo, crescendo ao ritmo mais baixo deste ano (1,5 por cento).

"A grande história de sucesso deste ano é, claramente, o bom desempenho das exportações", considera Cristina Casalinho, economista-chefe do BPI. Será, sobretudo, graças a este componente do PIB que 2010 será um ano melhor do que o previsto. Em vez de crescer apenas 0,9 por cento, o departamento de estudos económicos e financeiros do banco prevê agora um crescimento de 1,6 por cento, acima inclusive da previsão do Governo (1,3 por cento).

"Os principais parceiros comerciais, como a Espanha e a Alemanha, comportaram-se melhor do que se esperava e houve ganhos para outros mercados, como os EUA e o México", revela a economista. A isso soma-se o efeito base de 2009, ano em que o comércio internacional esteve em profunda queda, em que esteve encerrada durante alguns meses a refinaria de Sines e em que houve paragens de produção na Autoeuropa. "Tudo isto favoreceu também 2010", conclui.

Para Cristina Casalinho, a principal surpresa dos números do terceiro trimestre foi o investimento, que caiu mais do que se previa. Este indicador tem estado a descer desde o início da crise internacional (no ano passado recuou 14 por cento), mas tinha atenuado a sua diminuição nos primeiros trimestres. Entre Julho e Setembro, a queda de 8,6 por cento acabou por ser a maior de todo o ano. Para Filipe Garcia, economista da Informação de Mercados Financeiros (IMF), "isto revela uma falta de confiança grande das empresas e as suas dificuldades em aceder ao crédito". Além disso, os números do investimento acabam por ser contaminados pela crise no sector da construção, que continua em crise e tem um peso elevado na economia.

O consumo público quase estagnou (crescendo apenas 0,3 por cento), depois de ter subido 6,5 por cento no segundo trimestre, um valor claramente superior ao normal. Quanto ao consumo privado, aumentou ao ritmo mais baixo deste ano, crescendo apenas 1,3 por cento no terceiro trimestre. Uma tendência que deverá inverter-se no último trimestre. De acordo com os dois economistas contactados pelo PÚBLICO, a perspectiva de um aumento do IVA a partir de Janeiro deverá levar a uma antecipação de compras na fase final do ano.

Por Ana Rita Faria
Fonte: Público

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